Me acomete a
memória dos meus pais
Que parecem
falar aos meus ouvidos
Minha vida
caminha em dois sentidos
Uma parte
pra frente, outra pra trás
Ao me ver
estou ouvindo os madrigais
Sobre o colo
materno amamentado
Não consigo
dormir, sonho acordado
Afastando os
lençóis da nostalgia
Vou no trem
da saudade todo dia
Visitar o
lugar que fui criado.
Fisicamente
eu não vou, mas na lembrança
Eu não deixo
que as cenas se desmontem
Sempre parto
do hoje atrás do ontem
Que escondeu
meus brinquedos de criança
Me imagino
na mesma vizinhança
Muitos antes
de tudo ter mudado
Remexendo as
entranhas do passado
Remontando o
lugar onde eu vivia
Vou no trem
da saudade todo dia
Visitar o
lugar que fui criado.
A saudade me
obriga, eu obedeço
E retornar
ao passado é bom pra mim
Mesmo eu
fico mais longe do meu fim.
Toda vida
que volto ao meu começo
Quando fico
distante eu adoeço
E sinto meu
coração despedaçado
Só deixei
meu lugar por ser forçado
Que por pura
vontade eu não saía
Vou no trem
da saudade todo dia
Visitar o
lugar que fui criado.
O terreiro
coberto pelo mato
As paredes
forradas pelo lodo
Ao ver essa
imagem eu tremo todo
Como quem
sente a mão do abstrato
Ver meus
pais bem juntinhos num retrato
Que ainda
com vida foi tirado
Dividindo o
silêncio lado a lado
Um ao outro
fazendo companhia
Vou no trem
da saudade todo dia
Visitar o
lugar que fui criado.
Raimundo
Caetano