Foto: Fernanda Fernandes/ MDS |
Uma sala a céu aberto e aulas com
as mãos na terra. Essa é a dimensão educativa do Horto Agroflorestal Medicinal
Biodinâmico (HAMB) localizado na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Lago Norte,
bairro de Brasília. Um pequeno ecossistema plantado e cultivado no terreno de
1.000 metros quadrados ao redor do prédio que atende diariamente os usuários do
Sistema Único de Saúde (SUS), serve para abastecer de matéria-prima para a
produção de fitoterápicos a rede do Distrito Federal.
“A educação que era feita dentro
das unidades de saúde, sentado na cadeira, uma coisa muito teórica, aqui passa
a ser uma coisa prática”, disse Ximena Moreno, médica veterinária e co-criadora
da Rede de Hamb no DF, espalhada por 18 unidades de saúde, sendo 13 UBS. A ação
é uma parceria no SUS, entre a Secretaria de Estado de Saúde (SES) do DF e a
Fiocruz Brasília.
O co-criador do projeto, Marcos
Trajano, médico gerente de práticas integrativas da SES/DF, explicou as demais
dimensões do Hamb. “O esforço para superar a insegurança alimentar e
nutricional no Brasil e no mundo não pode prescindir de projetos como esse, que
articulam as comunidades, os trabalhadores e os gestores em prol da difusão de
educação alimentar e nutricional, de construção de solos saudáveis, mas, acima
de tudo, de comunidades cooperativas e que possam produzir biodiversidade a
partir da sua atuação conjunta”, frisou.
“A pessoa faz para depois sentir
e depois entender que está fazendo uma reeducação alimentar e, dessa forma, ela
vai entendendo também como esse pode ser um espaço seguro para compartilharem
problemas de casa. Além da produção nos hortos, os usuários também levam para
casa sementes e mudas para aprenderem a produzir o alimento lá”, completou
Ximena Moreno, que também é bolsista da Fiocruz.
Rafael Barros, bolsista da
Fiocruz, que faz parte da equipe de implantação do projeto destacou que o
espaço serve para construir a formação de vínculos, de contato com a terra, de
troca de saberes e de receitas. “É uma prática muito interessante para a
formação de vínculos e trabalhar a saúde a partir do contato e do cuidado com a
terra”, pontuou.
Para Aparecida Guerra, usuária da
UBS que participa ativamente do projeto todas as semanas, a experiência “é
muito boa porque, além do aprendizado, a gente tem essa comunidade de amizade,
de tranquilidade.” Opinião compartilhada por Mário Machado, que também
participa do Hamb. “Eu penso que é uma retribuição que eu tenho que fazer pelo
posto de saúde, pelo que ele faz por nós, a sociedade, a comunidade”.
A iniciativa é uma das
experiências de agricultura urbana e periurbana nos serviços de saúde (SUS) e
assistência social (SUAS) mapeada pelo Ministério do Desenvolvimento e
Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), em parceria com a
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com apoio da Embrapa Hortaliças. O
objetivo é identificar, selecionar e divulgar experiências bem-sucedidas para
contribuir na elaboração de estratégias de implementação dessas iniciativas.
“As hortas urbanas e hortos
medicinais dentro de unidades de saúde ou dentro dos Centros de Referência de
Assistência Social, os CRAS, compõem essa ideia de Equipamentos Públicos de
Promoção da Alimentação Saudável. A ideia é que a promoção da alimentação
saudável se dá nos diversos espaços de formação, oferta e consumo de
alimentos”, ressaltou Lilian Rahal, secretária nacional de Segurança Alimentar
e Nutricional.
Em abril, o MDS deu início ao
processo de mapeamento de experiências em agricultura urbana e periurbana nosserviços de saúde e assistência social. O processo de seleção das experiências
começou em julho, quando a equipe técnica revisou e analisou as propostas,
avaliando sua adequação ao eixo temático escolhido, além de verificar o
cumprimento dos requisitos e condições estabelecidos. No total, foram recebidas
96 experiências, das quais 43 foram selecionadas. Elas serão publicadas em um
e-book que será lançado pelo MDS em 2025.
Dentro do aspecto da desnutrição,
além da fome, a obesidade é um problema social que atinge de forma desigual a
população mais vulnerável. Um conjunto de evidências aponta que os sistemas
alimentares hegemônicos em ambientes não saudáveis favorecem o acesso, a
disponibilidade e o consumo dos alimentos ultraprocessados, que estão
diretamente relacionados com obesidade, doenças crônicas e mortes precoces.
Na Estratégia de Prevenção da
Obesidade do MDS, encaixam-se projetos como das hortas urbanas, que fazem parte
do Programa de Agricultura Urbana e Periurbana (AUP), relacionado à atividade
agrícola e pecuária desenvolvida nas áreas urbanas e periurbanas e integrada ao
sistema ecológico e econômico urbano, destinada à produção e à extração de
alimentos e de outros bens para o consumo próprio ou para a comercialização.
“Os ultraprocessados não devem
fazer parte dos programas públicos de alimentação e dos espaços de oferta de
alimentação, especialmente para crianças e públicos mais vulneráveis. Então, as
hortas urbanas entram no espaço escolar, tanto como hortas pedagógicas como
também espaços de produção e oferta de alimento saudável. E entram nos Centros
de Referência de Assistência Social, os CRAS, e nas Cozinhas Solidárias, que
têm a horta ao lado desses espaços, tanto para oferta de alimentos para a
comunidade como para abastecer o preparo de refeições”, exemplificou Lilian
Rahal.
O Programa Nacional de
Agricultura Urbana e Periurbana abrange todas as etapas de produção,
processamento, distribuição e comercialização de alimentos, plantas medicinais,
plantas aromáticas e ornamentais, fitoterápicos e insumos, tanto para o
autoconsumo quanto para a comercialização. Também inclui processos de gestão de
resíduos orgânicos.
Além disso, o programa tem
objetivos como promover, desenvolver e conscientizar sobre os impactos da
agricultura urbana e periurbana nas cidades, desde a agricultura sustentável
até o combate à insegurança alimentar decorrente das desigualdades sociais
relacionadas a raça, etnia e gênero.
A realização das ações é
articulada entre os Ministérios do Desenvolvimento e Assistência Social,
Família e Combate à Fome, Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Meio
Ambiente e Mudança do Clima e do Trabalho e Emprego, visando uma abordagem
conjunta, cooperativa e transparente na implementação, avaliação e
monitoramento do Programa Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana.
Fonte: www.gov.br/mds
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