Os seres humanos já eram pescadores experientes há 42 mil
anos, capturando atuns, tubarões e outros peixes de alto-mar para comer.
Cientistas liderados pela arqueóloga Susan O′Connor, da Universidade Nacional
da Austrália, encontraram na Caverna de Jerimalai, no Timor Leste, mais de 38
mil ossos e restos de peixes de pelo menos 35 diferentes espécies, muitas das
quais só encontradas em águas profundas, além do que parece ser um anzol
primitivo. Eles determinaram os achados como tendo entre 16 mil e 42 mil anos
de idade.
Os peixes fazem parte da dieta humana há 1,9 milhão de anos,
mas os primeiros pescadores simplesmente entravam em lagos e rios rasos para
pegá-los, sem a necessidade de barcos e ferramentas complexas. Só muitos
milênios depois que o homem decidiu se aventurar nos oceanos em busca dos
animais. Como capturar atum e outros peixes de alto-mar requer ferramentas e
planejamento, isso significa que eles já tinham desenvolvido as capacidades
mentais e técnicas para fazer o trabalho. O`Connor destaca que o Timor Leste é
lar de muito poucos animais grandes, então seus habitantes tiveram que
desenvolver essas habilidades para sobreviverem.
"A necessidade é a mãe da invenção", lembra a
arqueóloga. "Além de morcegos e ratos, não tem muito o que comer lá".
Segundo O`Connor, o anzol encontrado por sua equipe é o mais
antigo exemplo conhecido de uma ferramenta do tipo. Feito de uma concha, ele
foi datado com tendo entre 16 mil e 23 mil anos.
"Isso mostra que nossos ancestrais eram artesãos hábeis
além de pescadores capacitados", avalia.
Os antigos pescadores provavelmente faziam seus barcos
atando toras de madeira - nos moldes das jangadas do Nordeste do Brasil -,
usavam redes primitivas e afiavam pedaços de madeira e concha para usar como
anzóis, diz Kathlyn Stewart, pesquisadora do Museu da Natureza do Canadá que
não fez parte do grupo do estudo de O`Connor, publicado na edição desta semana
da revista “Science”.
- Essa pessoas eram espertas, elas sabiam que havia peixes
lá fora – considera Stewart.
Ainda não está claro o quão longe da costa esses pescadores
se aventuravam. Quando capturavam um peixe, provavelmente o consumiam cru ou
levavam de volta para seu acampamento para cozinhar, conta Stewart.
A descoberta, no entanto, não significa necessariamente que
a pesca em alto-mar teve início na região. Na época, o nível do mar era de 60 a
70 metros mais baixo que hoje. Assim, outros locais de ocupação da costa no
Pleistoceno – diferentemente dos penhascos de Jerimalai - hoje estão submersos.
Análises dos padrões da migração humana sugerem que
evidências mais antigas de pesca poderiam ser encontradas nestes sítios
submersos. Depois de deixarem a África há cerca de 70 mil anos, os humanos
modernos levaram apenas 20 mil anos para costear a Ásia e chegar na Austrália,
enquanto a viagem por terra para a Europa, embora menor, demorou mais, cerca de
30 mil anos. Isso mostra que eles já dominavam a arte da navegação e a pesca
pode ter ajudado a acelerar essa migração.
Da
Agência O Globo
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