Em discurso proferido no plenário do Senado Federal, o
senador Armando Monteiro (PTB) destacou como “medida acertada” a ofensiva
deflagrada pelo Governo Federal a respeito da redução dos spreads bancários.
Spread é a diferença entre o custo de captação dos bancos e os juros dos
empréstimos aos clientes, seja pessoa física ou jurídica.
A medida anunciada em março deste ano começou com a redução
dos spreads pelo Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal (CEF). A
proposta do governo de reduzir a taxa de juros do país foi ganhando musculatura
com a adoção de mudanças também na caderneta de poupança, que entrará em vigor
após aprovação da Medida Provisória 567.
“Conhecemos bem o efeito perverso da combinação de spread
elevado, juros altos e carga tributária pesada. Essa realidade – que nos
distancia do patamar e padrão internacionais de custo do capital – penaliza a
sociedade de modo geral, mas prejudica especialmente o setor produtivo, fonte
de geração de emprego e renda, e distancia cada vez mais o país da rota do
crescimento sustentável. É hora de desmontar os entraves ao nosso
desenvolvimento”, disse Armando Monteiro.
Para o senador, a audiência pública marcada para a próxima
semana, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), com a presença do ministro da
Fazenda, Guido Mantega, do presidente da FEBRABAN, Murilo Portugal, e demais
especialistas do setor, será uma grande oportunidade para se discutir esse
conjunto de iniciativas voltadas para a redução da taxa de juros.
“Esse debate é oportuno para analisarmos essa anomalia, essa
distorção que são os spreads praticados no Brasil. Não se pode admitir que um
país que tem hoje as condições macroeconômicas do Brasil, inclusive, na
percepção da comunidade internacional, que tem prêmios de risco que são cada
vez mais baixos, um país que é credor externo líquido, que tem reservas maiores
do que a sua dívida, que tem uma taxa básica de juros hoje que caminha para
patamares de economias estabilizadas, mantenha elevado o spread praticado no
país”, ponderou Armando.
Estudo recente do Dieese, mencionado pelo senador, aponta
que o Brasil detém a maior taxa de spread quando comparado às nações
desenvolvidas. Em janeiro, a taxa média paga para aplicações financeiras no
Brasil, estava em 38% ao ano e a taxa média de captação em 10,2%, resultando
daí um spread de 27,8% no mesmo período. “No mesmo mês, o spread da Argentina
era de 3,4% ao ano, o do Chile, 4,5%, e o do México, 3,8% só para citar alguns
exemplos. Perdemos também para os demais integrantes do Brics - o spread da
China foi de 3,1%, na Rússia, 3% e na África do Sul, 3,5%”, apresentou.
O Dieese cita também como causa dos spreads altos, a
estrutura oligopolista do segmento bancário, com poucas instituições no
controle, com grande capacidade de determinação dos juros cobrados nas
operações de crédito e do valor das tarifas. “Os cinco maiores bancos (três
privados, mais BB e CEF) concentram mais de 80% dos ativos totais e das
operações de crédito do sistema bancário brasileiro”, apontou Armando. Para
ele, a ausência da atuação de um órgão em prol da defesa da concorrência no
mercado financeiro prejudica o consumidor.
Em audiência promovida pelo Senado, Armando Monteiro já
havia questionado enfaticamente o presidente do Banco Central, Alexandre
Tombini, sobre essa ausência de controle. “É inegável que o Banco Central vem
conduzindo bem as questões macroprudenciais, tendo acertado ao iniciar, em
agosto de 2011, o ciclo de redução da taxa de juros, mesmo quando o mercado
financeiro defendia uma posição mais conservadora. Mas sua atuação sempre foi
tímida no que se refere à defesa da concorrência”, afirmou o senador,
destacando que existe um vácuo regulatório nesta questão.
O senador também reconhece que a agenda dos spreads é densa
e complexa. “O Brasil é um dos países que tributa de modo severo a
intermediação financeira. Diferente do que muitos ingenuamente supõem, ao
tributar fortemente a intermediação financeira, nós não tributamos os bancos,
tributamos o tomador do crédito, porque todo esse custo é repassado para ele”,
ressaltou.
Depósitos compulsórios e insegurança jurídica - Outro fator
que contribui para a permanência de elevados spreads no Brasil são os depósitos
compulsórios, que segundo o parlamentar, não tem paralelo com o cenário
internacional. “O Brasil tem um nível de recolhimentos compulsórios altíssimos,
inclusive até sobre depósitos a prazo, e isso tem, efetivamente, um custo na
medida em que as instituições são obrigadas a recolher uma parcela expressiva
de recursos”, explicou.
Além disso, outro fator adicional é a insegurança jurídica.
“O Brasil é um país em que o sistema judicial tem um viés pró-devedor. Quando
se questionam juros, adquire-se o direito de deixar de pagar o principal.
Então, isso é algo que também não existe. E essa insegurança termina sendo
levada para a taxa de juros; é uma espécie de um prêmio de risco que vai também
ser incorporada a taxa de juros praticada no mercado”, avaliou.
Segundo
o senador, a hora não é para a adoção de atitudes imprudentes e sim o momento
de canalizar esforços na redução continuada da taxa de juros do país, com foco
no estímulo da concorrência. ‘Defendo um debate aberto, franco e responsável
sobre essa questão. Não temos, evidentemente, propósito algum de querer
demonizar o sistema financeiro. O Brasil tem um sistema financeiro eficiente,
saudável e que representa um ativo valioso para o País. Temos o dever de
encontrar padrões de spread que possam convergir para os níveis
internacionais”, concluiu.
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