Centenas de milhares de egípcios exigiram neste domingo a
demissão do Presidente Mohamed Morsi, acusado pela oposição de sequestrar a revolução
e de deixar o Egipto afundar-se na crise. A oposição pediu entretanto para que
ninguém deixe a rua até Morsi se demitir.
“Vai-te embora!”, “As pessoas querem a queda do regime”,
gritaram os cerca de 200 mil manifestantes que, ao final da tarde, enchiam a
praça Tahrir, berço da revolução e montra dos sucessivos protestos que abalaram
o país desde então. Outras 100 mil protestavam à mesma hora em Alexandria.
A Frente de Salvação Nacional, grupo que reúne quase toda a
oposição secular e é coordenado pelo antigo director da Agência Internacional
de Energia Atómica, Mohamed ElBaradei, veio subir a parada ao final do dia:
“Apelamos a todas as forças revolucionárias e a todos os cidadãos que mantenham
concentrações pacíficas nas praças, ruas e aldeias do país até à queda de todos
os elementos deste regime ditatorial”.
Antes, numa entrevista ao jornal britânico Guardian, Morsi
rejeitou a hipótese de antecipar as presidenciais e disse estar confiante de
que cumprirá até ao fim os quatro anos de mandato para que foi eleito – é o
primeiro chefe de Estado egípcio a chegar ao poder através de eleições
democráticas. Reafirmou, no entanto, que está disponível para discutir emendas
à Constituição.
Sede da Irmandade atacada
O dia no Cairo foi mais calmo do que os confrontos dos
últimos dias deixavam adivinhar, talvez porque durante a maior parte do tempo
os dois campos se mantiveram separados — a oposição enchendo a praça Tahrir; os
islamistas concentrados junto à mesquita Rabaa al-Adawiya, num subúrbio da
capital.
As primeiras notícias de violência surgiram só ao início da
noite: a sede da Irmandade, no Cairo, foi atacada com cocktails molotov e
confrontos numa cidade ao sul da capital fizeram pelo menos um morto. Desde
quarta-feira, oito pessoas morreram em confrontos entre apoiantes e opositores
de Morsi. Os piores incidentes aconteceram na sexta-feira em Alexandria, com a
morte de duas pessoas, incluindo um estudante norte-americano, durante
incidentes junto a uma sede da Irmandade Muçulmana.
Foi na esperança de mobilizar multidões como as que, em
2011, fizeram cair Hosni Mubarak que o Tamarod (Rebelião, em árabe) — um
movimento de bases a que se juntaram partidos seculares e de esquerda — convocou a manifestação para o dia em que
Morsi cumpriu o primeiro ano do seu mandato. Aos protestos, os activistas
juntaram um desafio: asseguraram que a petição lançada em Abril a exigir a
demissão de Morsi recolheu 22 milhões de assinaturas.
Fonte: Público de
Portugal
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