O papa Francisco viajou nesta segunda-feira (8) para a ilha
siciliana de Lampedusa, no sul da Itália, espécie de "porta da
Europa" para os imigrantes ilegais que buscam no continente um futuro
melhor, e lamentou as mortes ocorridas durante esta travessia. Ele ainda
denunciou a "globalização da indiferença" diante do drama da
imigração ilegal.
O pontífice celebrou uma missa no local diante de cerca de
10 mil pessoas. Francisco, em sua primeira viagem como pontífice para foa de
Roma, lançou uma coroa de flores ao mar em homenagem aos mortos e se reuniu com
vários imigrantes hospedados em Lampedusa, que fica a 113 quilômetros do
litoral da África.
Nas últimas décadas, cerca de 20 mil imigrantes morreram no
mar tentando chegar à Europa.
O papa aproveitou a ocasião e pediu para "que se
despertem nossas consciências e para que tragédias como as ocorridas não voltem
a se repetir".
O pontífice denunciou "a crueldade que há no mundo, em
nós e naqueles que no anonimato tomam decisões socioeconômicas que abrem o
caminho a dramas como esse". Francisco também criticou os traficantes de
seres humanos, que se aproveitam da pobreza dos imigrantes.
A morte há uma semana de sete africanos quando tentavam
chegar na costa italiana amarrados na rede de um pesqueiro tunisiano, que foram
cortadas pelos tripulantes, chocou o papa, que revelou nesta segunda que o caso
cravou como um espinho em seu coração.
Francisco decidiu que precisava viajar para essa ilha para
demonstrar sua "solidariedade e proximidade". Em sua homilia,
denunciou a "globalização da indiferença", que faz com que o homem
não se sinta responsável pela morte dos imigrantes que perdem a vida nas
travessias buscando um futuro melhor.
"Imigrantes mortos no mar, nesses barcos que em vez de
ser uma via de esperança se transformaram em um caminho de morte", afirmou
o papa. Francisco disse ainda que o ser humano atual, imerso na cultura do
bem-estar, "que nos leva a pensar em nós mesmos, nos torna insensíveis ao
grito dos outros".
"Nos faz viver em uma bolha de sabão, que são bonitas,
mas não são nada mais, são a ilusão dos fúteis, do provisório, que leva à
indiferença aos outros, leva à globalização da indiferença", acrescentou.
"Temos nos acostumados ao sofrimento dos outros, não
nos afeta, não nos interessa, não é coisa nossa", criticou.
O pontífice advertiu que essa globalização da indiferença
torna os homens pessoas sem nome e sem rosto.
Francisco disse que a sociedade atual se transformou em uma
sociedade que esqueceu de "chorar pelas pessoas que morreram nos barcos no
fundo no mar, pelas jovens mães que levavam seus filhos".
A Eucaristia foi celebrada em um altar construído com um
velha barca e foi acompanhada inclusive por imigrantes muçulmanos.
A visita a Lampedusa durou cerca de 12 horas. Francisco
chegou, por coincidência, pouco depois que uma embarcação com 166 imigrantes
ilegais desembarcou na ilha.
Após jogar a coroa de flores no mar, o papa se reuniu com
cerca de 50 imigrantes, entre eles mulheres e crianças, que pediram ajuda da
Europa.
"Fugimos de nosso país por motivos políticos e
econômicos. Para chegar a esse lugar superamos muitos obstáculos, fomos
roubados por traficantes, sofremos muito até chegar aqui", disse um jovem
imigrante, que entregou uma carta ao pontífice.
Fonte: Folha de São
Paulo.
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