POETAS E POESIAS: DEPOIS QUE A SECA TERMINA

Abrahão Filho

A conversa é uma só
Aqui nas sombras e encostas
E cada um faz as amostras
E não sente mais nem dó
O sapato “chei” de pó
Pela chuva repentina
De tanto sofrer na sina
Já ta todo enlameado
Pronto pra plantar roçado
Depois que a seca termina

Cheiro de terra molhada
O mato verde nascendo
O capim já ta crescendo
Pra fome da vacarada
Leite pra fazer qualhada
E todo mundo se anima
Pois a festa nordestina
Fica é uma maravilha
Em cada um olho que brilha
Depois que a seca termina

Agricultor na emoção
Prepara a terra pra arar
E enquanto o dia durar
Vai plantar milho e feijão
Cantando a bela canção
Que Gonzaga fez com rima
De uma volta repentina
A Asa Branca vai mais vem
Pois a fartura aqui tem
Depois que a seca termina

O açude já ta sangrando
A cacimba já transborda
Solta os animais da corda
Que o verde já vem florando
E o gado vai passeando
A alegria predomina
Acabou-se a triste sina
D’um sertão seco e acabado
Tudo fica transformado
Depois que a seca termina

É rodoviária cheia
Todo mundo ta voltando
Vejo “Passarim” cantando
Logo a noite vai ter ceia
Plantar roçado de meia
Mais um compadre suvina
Sobre a proteção divina
E somente por prazer
Pra ter milho pra comer
Depois que a seca termina

Tomar banho num açude
Beber água de cisterna
Ver na figura paterna
As marcas da juventude
E pedir que nunca mude
A paisagem que domina
Que combinando faz rima 
Com sorriso sertanejo
Que este sorriso eu só vejo
Depois que a seca termina

Abrahão Filho