Em discurso proferido na tribuna do Senado na noite desta
quarta-feira (15), o senador Armando Monteiro (PTB) demonstrou preocupação com
as políticas públicas voltadas para a saúde do país. De acordo com as pesquisas
anuais do Datafolha, desde 2007 os brasileiros colocam a saúde como a principal
preocupação entre todas as políticas públicas.
O senador afirma que há muito a se resolver na área da
saúde, mas já aponta alguns avanços. A emenda constitucional 29 é uma delas.
Aprovada no Senado no ano passado, a emenda regulamenta níveis mínimos de
gastos para União, Estados e Municípios com a área da saúde. “Foi um passo
importante para garantir um padrão mínimo de despesas focalizadas no setor,
evitando a inclusão indevida na rubrica de outros tipos de gastos”, comentou.
O parlamentar reconhece que essas medidas estão longe de
esgotar o problema. “É preciso reconhecer que o Brasil convive com uma agenda
pendente na saúde. Essa é a área que talvez melhor explicite a contradição
entre os ideais igualitários consagrados na Constituição de 88 e a desigualdade
imensa do País. A saúde é um direito de todos e dever do Estado, mas nossa
prática foge a esse ideal”, avaliou.
Quanto ao Sistema Único de Saúde (SUS), o senador aponta que
sua concepção faz dele o mais completo do mundo. Porém, na prática isso não se
aplica. Apesar de os mais ricos usarem menos o SUS do que os mais pobres, eles
têm mais acesso ao atendimento público de alto custo e complexidade, no geral
disponível de forma completa apenas nos Estados mais desenvolvidos. “As
diferenças de atendimento médico entre os grupos sociais continuam elevadas”,
comentou.
Armando acredita que para avançar na agenda da saúde é
preciso enfrentar o elenco de distorções existentes no SUS. “Convivemos com
deficiência de cobertura, falta de qualidade dos serviços, filas longas e
resultados aquém do esperado, além de problemas de organização e baixa
eficiência, falta de transparência na alocação de recursos e de autonomia
administrativa, entre outros itens”, pontuou.
Medidas - O senador apresentou ainda um conjunto de medidas
que poderiam contribuir com a melhoria do setor da saúde por meio do SUS,
elaborado pelo economista André Medici, no livro Brasil: a nova agenda social.
O economista acredita que a melhoria do acesso e da qualidade do serviço
público - ampliando sua cobertura, certificando instituições de atendimento e
qualificando recursos humanos -, é uma alternativa eficaz. Outra ação seria o
aperfeiçoamento da governabilidade do SUS, pela implantação de redes regionais
integradas de saúde e da criação de instituições com autonomia administrativa.
Na avaliação de Armando Monteiro há um enorme fosso entre as
demandas crescentes por serviços de saúde e os limitados recursos com que
contam os governos, principalmente considerando a impossibilidade de aumento da
carga tributária. “O debate em torno dessa questão é polêmico, mas o fato é que
a sociedade rejeitou a CPMF e o retorno de novos impostos com essa finalidade.
Registra-se ainda que, mesmo quando o Ministério da Saúde contava com a CPMF, o
total destinado à área não aumentou na mesma proporção, porque o governo
reduziu os recursos de outras fontes que deveriam ser aí alocadas”, esclareceu.
Para o parlamentar são muitos os problemas, mas “o cardápio de soluções” também é amplo.
“Precisamos caminhar no sentido de impulsionar essa agenda pendente, que
depende de muita vontade política”, concluiu.
Crédito
da foto: Moreira Mariz / Agência Senado
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