A primeira rodada de debates com a presença de governadores
dos estados afetados pela a uniformização da cobrança de ICMS a produtos
importados mostrou efeitos negativos decorrentes dos incentivos aos importados
(guerra dos portos) e a necessidade da aprovação célere do projeto de Resolução
do Senado nº 72.
A reunião foi realizada nesta terça-feira (20), conduzida
pelo senador Eunício Oliveira (PMDB/CE), presidente da Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ). O PRS 72, de autoria do senador Romero Jucá visa dar fim à
‘guerra dos portos’ entre os estados e desestimular as importações.
Para o senador Armando Monteiro, o Senado Federal não pode
perder a oportunidade de dar uma resposta clara à sociedade brasileira que
precisa perceber a gravidade do problema e das consequências que advirão dessa
situação que contribui com o processo de desindustrialização do Brasil. “O
Senado Federal tem, através dessa resolução 72, a oportunidade de afirmar
claramente uma posição que se traduza na interrupção dessa prática tão lesiva
aos interesses do país”, afirmou Armando, lembrando que em situações passadas o
Senado não foi capaz de dar essa resposta ao renovar por mais 20 anos, a
Reserva Global de Reversão (RGR) – taxa embutida na conta de energia.
Segundo o parlamentar, existe uma crise no comércio exterior
brasileiro que se agrava aceleradamente, principalmente no setor de
manufaturados. “Se tomarmos o balanço entre exportações e importações de
produtos manufaturados, o quadro que se desenha é dramático dado à velocidade
da deterioração do saldo da balança comercial nessa área”, argumentou Armando
Monteiro.
Em 2006, o déficit da conta de manufaturados, excluídos
commodities e petróleo, era da ordem de seis bilhões de dólares. Em 2011, esse
déficit alcançou 92 bilhões de dólares. Em 2000, o produto importado supria
algo em torno de 10% do consumo do país. Nos últimos anos esse número dobrou.
Atualmente, o produto importado na indústria de transformação representa algo
em torno de 20% do consumo de produtos industriais no Brasil.
“A velocidade desse processo está produzindo um quadro grave
no Brasil. Eu não tenho dúvida de apontar esse fato como um quadro de
desindustrialização. Não é ainda perda de produto em termos absolutos, mas é
uma perda de posição relativa da indústria, seja na formação do produto global
da nossa economia, seja na perda de empregos no setor industrial”, externou.
O senador ressaltou ainda que o Brasil, ao longo dos anos,
criou a mais importante plataforma manufatureira da América Latina, fruto do
trabalho de gerações de brasileiros. “Não podemos permitir o desmonte dessa
estrutura em decorrência de uma série de equívocos e, ainda, da falta de
efetividade das políticas do nosso país e de uma incompreensão, também do poder
legislativo, de que o tempo político tem que estar sincronizado com as
exigências do tempo econômico. O mundo não vai esperar - onde há um acirramento
da competição em escala global - que o Brasil resolva suas contradições e os
problemas federativos. Até lá, a indústria está pagando uma conta alta que
poderá representar um prejuízo irreversível ao país”, avaliou o parlamentar.
Para Armando Monteiro é inconcebível o governo continuar
concedendo incentivos fiscais a importação. “É absolutamente irracional que se
conceda incentivo fiscal a importação. Isso é algo que fere a lógica econômica.
No Brasil vivemos o seguinte paradoxo: as exportações de manufaturados não
estão desoneradas totalmente, porque ao longo da cadeia produtiva há um resíduo
tributário que o setor exportador não consegue desonerar de todo",
apontou.
Interesses nacionais - Ciente da importância de estudar meios
de compensar os estados afetados com a uniformização da alíquota do ICMS,
Armando Monteiro foi bastante direto ao afirmar que é necessário também colocar
os interesses nacionais acima das questões estaduais. “Quero registrar o
respeito que tenho às manifestações que foram trazidas pelos governadores. Acho
que essa faceta da guerra fiscal revela a incapacidade de promover um ajuste no
nosso país, que possa colocar os interesses nacionais permanentes acima das
contradições e dos falsos antagonismos. Tenho a compreensão de que esses
estados precisam receber as compensações. A forma de fazer e o ritmo terá que
ser definido num processo amplo que tenho certeza que para isso o governo
federal haverá de se sensibilizar. Não posso compreender a ideia de se postergar
uma decisão sobre uma questão tão grave e que afeta de uma maneira tão danosa
os interesses da indústria brasileira”, concluiu o senador.
Participaram
da audiência os governadores de Goiás, Marconi Perillo; de Santa Catarina,
Raimundo Colombo; do Espírito Santo, Renato Casagrande; do Ceará, Cid Gomes, e o vice-governador do
Pará, Helenilson Pontes. Também estiveram presentes no debate o secretário
executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa; o presidente da Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf; o representante da
Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Cayres; e consultores.
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