Lembrando o
meu Carirí, e o seu céu de azul anil,
saluçando de
sodade, cum meu coração a mil,
vô falá de
um rituá, qui quem vê se sente má,
no nordeste
do Brasil.
Falo da
queima de espíin! Quando a sêca a castigá,
o meu
querido sertão, nuis obriga a praticá.
Páima,
sodóro e fachêro, macambira; cumpanhêro;
p'ro gado se
alimentá.
O gado,
quage sem fôrça, chega pidindo clemença.
Juntíin da
coivara in chama, ispera cum paciença.
Só tem o
côro e o ôsso, a légua e meia do poço,
in totá
abistinença.
Se bota o
espíin no fogo, adispôi do espíin queimado,
o espíin se
dirmancha, fica o tronco cunzinhado.
E uis
bichíin alí, de êito, come aquilo sastisfeito,
se sintindo
alimentado.
Dispô anda
légua e meia, pru mode a sêde matá.
Num poço
véio, ô cacimba, c'um o vaquêro a vigiá.
Dispôi, ôta
caminhada; mais ôta légua de istrada,
mode drumí
no currá.
E o vaquêro,
adispôi disso, se banha mode ciá.
Na mesa só
tem farinha, e macássa n'água e sá.
Quando tem
sorte e fartura, um boró de rapadura,
e farofa de
jabá.
Dispôi reza,
pede a Deus, mode ais coisa amiorá.
Se deita
mais a muié; se ela nêle se inroscá;
na hora êle
corresponde, cum fôrça num sei dadonde,
prá mais ela
chamegá.
É triste,
mais é verdade, o qui eu lhe relato aqui.
Cuma é
doloroso e triste, o cantá da jurití.
Lhe juro in
minha poesia: Na sêca êsse é o dia a dia,
no sertão do
Carirí...
Autor: Bob
Motta
Poema
classificado em sexto lugar no IX FESERP-FESTIVAL SERTANEJO DE POESIA, PRÊMIO
AUGUSTO DOS
ANJOS, em dez 2001 na Cidade de Aparecida-PB.
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