O senador Roberto Calderoli, do partido Liga Norte,
conhecido por se posicionar contra a imigração na Itália, comparou a primeira
ministra negra do país Cecile Kyenge a um orangotango. Cecile, cidadã italiana
nascida na República Democrática do Congo, vem sendo alvo de discursos racistas
desde que foi nomeada ministra da Integração em abril.
“Eu amo animais, ursos e lobos, como todos sabem, mas quando
eu vejo fotos de Kyenge, eu não consigo deixar de pensar em, e não estou
dizendo que ela é, um orangotango”, disse Calderoli, vice-presidente do Senado,
em discurso na cidade de Treviglio no sábado (13).
Calderoli disse ainda que o sucesso de Kyenge encorajou
“imigrantes ilegais” a virem para a Itália e afirmou que ela deveria ser
ministra “em seu país natal”, de acordo com a imprensa local. Nos últimos
meses, a maioria dos insultos racistas, como “macaca do Congo”, “Zulu” e “a
negra anti-italiana”, veio de membros de grupos da extrema-direita.
Em junho, um integrante da Liga Norte no parlamento europeu
foi expulso do grupo eurocéptico Europa da Liberdade e da Democracia por
comentários racistas a respeito de Kyenge. Mario Borghezio atacou a ministra
dizendo que ela queria impor “tradições tribais” na Itália como membro do
governo “bonga bonga”, um trocadilho com as chamadas festas “bunga bunga”
promovidas pelo ex-premiê italiano Silvio Berlusconi.
O opositor Calderoli, duas vezes ministro durante os
mandatos de Berlusconi, costuma ser agressivo em suas declarações. Em 2006, ele
se viu forçado a deixar o cargo de ministro depois de aparecer durante um
evento do governo com uma camiseta portando um desenho ofensivo do profeta
Maomé. No mesmo ano, depois que a Itália venceu a Copa do Mundo, ele fez
comentários racistas sobre a seleção da França.
A Itália venceu o Mundial com atletas do país, ao passo que
a França perdeu, disse Calderoli, por conta de seus jogadores “negros,
muçulmanos e comunistas”. Neste domingo (14), vários políticos, incluindo
alguns da própria Liga Norte, criticaram Calderoli duramente, com alguns até
mesmo pedindo a renúncia dele como vice-presidente do Senado.
Em comunicado oficial e também pelo Twitter, o
primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, disse que os comentários racistas são
inaceitáveis. “Foi muito além do limite. Toda solidariedade e apoio a Cecile.
Que ela continue com o seu e o nosso trabalho”, declarou Letta.
Kyenge tem feito campanha para que os imigrantes tenham mais
facilidade para adquirir a cidadania italiana, e ela apoia uma lei que
automaticamente torna italiano qualquer cidadão nascido em solo, o que não
ocorre atualmente. A ministra não se manifestou oficialmente, mas disse à
agência AGI que Calderoli deveria refletir sobre sua função como membro do
Senado.
Fonte: Reuters/ Blog do Alvinho Patriota.
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