16/10/2013

“DINHEIRO FOI BLOQUEADO”, DIZ ADVOGADO DA NNEX APÓS PRISÃO DE CASAL NO RN

Empresário e advogada são suspeitos de aplicar golpe de R$ 3,5 mi na NNex.
Operação Binário Perfeito cumpriu mandados em três cidades do estado.


Quase todo o montante de R$ 3,5 milhões, dinheiro supostamente desviado da NNex, já foi bloqueado das contas do casal suspeito de aplicar golpes contra a empresa. A informação foi confirmada ao G1 pelo advogado André Dantas de Araújo, que defende a empresa de marketing multinível. Os suspeitos dos golpes são o empresário Tarcísio Nóbrega de Mello Júnior e a mulher dele, a advogada Rafaela Pereira Gurgel Silva de Mello. Ambos foram presos na noite desta segunda-feira (14) na cidade de Currais Novos, na região Seridó do Rio Grande do Norte, durante a operação Binário Perfeito – uma alusão à linguagem de codificação da internet.

A Polícia Civil, sob o comando do delegado Júlio César Costa, titular da Delegacia Especializada em Defraudações e Falsificações, deu prosseguimento à operação nas primeiras horas da manhã desta terça (15) e também cumpriu mandados de busca e apreensão em Caicó, que fica na mesma região, e em Natal. Computadores e uma vasta documentação foram recolhidos. O casal se negou a dar declarações.

“Do valor desviado, estes R$ 3,5  milhões, quase tudo já foi bloqueado pela justiça”, afirmou André Dantas de Araújo, confirmando que foi a própria NNex, há cerca de dois meses, quem fez a denúncia contra o casal. O empresário e a advogado, ainda de acordo com o delegado, são proprietários da Veloz-Net.com, especializada em serviços de provimento de acesso à internet na cidade de Caicó. "Ambos responderão por estelionato e, eventualmente, lavagem de dinheiro", acrescentou Júlio Costa.

A operação

A operação Binário Perfeito foi deflagrada na noite desta segunda (14), em Currais Novos, onde o casal Tarcísio Nóbrega de Mello Júnior e Rafaela Pereira Gurgel Silva de Mello foram presos. Eles são suspeitos, segundo o delegado Júlio César Costa, de aplicar golpes que podem ter causado um prejuízo, em dois meses, de aproximadamente R$ 3,5 milhões na empresa de marketing multinível NNex, que possui sede em Belo Horizonte, Minas Gerais. Os mandados de prisão foram expedidos pelo juiz Luiz Cândido Villaça, da comarca de Caicó.

Na manhã desta terça (15), policiais cumpriram mandados de busca e apreensão em Caicó e em Natal. Na capital, as buscas foram realizadas em uma residência no bairro de Neópolis, que pertence ao casal. Ainda segundo o delegado, os suspeitos modificaram informações existentes no banco de dados da empresa e transformaram taxas cobradas por atividades digitais em créditos vultosos, cujas transferências bancárias foram concretizadas até o dia 15 de agosto deste ano, quando a empresa descobriu as fraudes devido à considerável movimentação financeira. Além do casal, outros empreendedores digitais também teriam obtido vantagens patrimoniais ilícitas após adulterarem o banco de dados da empresa por meio de três fraudes cometidas pela rede internet.

O G1 teve acesso exclusivo ao inquérito instaurado pelo delegado. Nele, as investigações apontam como ocorreriam as fraudes. Na primeira, consta que os suspeitos utilizaram meios fraudulentos para enviar tickets eletrônicos - chamados e-vouchers vip - para a divisão de lucros da empresa, “gerando créditos ilegais exorbitantes no banco virtual (sistema de gerenciamento dos ganhos pecuniários e transferências bancárias), que foram transferidos para as suas contas bancárias cadastradas no sistema”. Nesta modalidade, a NNex constatou fraudes em aproximadamente 700 logins de empreendedores digitais, dentre eles 23 logins que se reportam ao nome da Veloz-Net.com. Ainda segundo levantamento apresentado pela NNEx, a fraude gerou um prejuízo financeiro em torno de R$ 500 mil.

Na segunda fraude, a investigação aponta que o casal modificou o banco de dados da NNex, alterando uma taxa cobrada à título de encargos de transferência bancária, que é de R$ 5,90, para importâncias vultosas, cuja materialidade do crime encontra-se firmada por meio dos espelhos dos extratos financeiros extraídos do banco virtual do sistema da empresa, como também por meio dos comprovantes de depósitos. “Aqui, as fraudes feitas no back office dos empreendedores totalizam a impressionante marca de aproximadamente R$ 2 milhões, deixando claro que Tarcísio Nóbrega de Mello Júnior e Rafaela Pereira Gurgel Silva de Mello foram os mentores e os grandes beneficiados pelos golpes consumados no sistema de automação da empresa”, afirmou o delegado.

Já na terceira e última modalidade, o delegado Júlio Costa relatou que foram feitas transferências de titularidade dos logins de diversos empreendedores afiliados, “quando os golpistas alteraram substancialmente o valor da taxa cobrada pela empresa, gerando créditos no banco virtual que gerencia as bonificações por eles recebidas, transferindo os valores para as contas bancárias cadastradas no sistema a exemplo do que ocorreu na segunda modalidade de fraude. Esta fraude gerou um prejuízo de aproximadamente R$ 1 milhão, mas a empresa ainda não apresentou a documentação comprobatória desta espécie criminosa”, detalhou.

NNex

O gerente operacional da NNex, Eugênio Pachelle Costa, declarou à polícia que foram realizadas 123 mudanças fraudulentas de titularidade de logins de empreendedores, “tendo os CPFs do casal investigado registrados como destinatários dos créditos gerados pelos logins de origem, quando os indigitados modificavam o custo pela geração da mudança de titularidade (R$ 50) em créditos vultosos”.

Ainda de acordo com o gerente, a NNex desenvolve atividade econômica de venda direta de produtos e serviços e a prestação de serviços de divulgação, publicidade e comunicação na internet, remunerando a pessoa que se afilia à empresa (conhecida como empreendedor digital) por meio de tickets eletrônicos chamados e-vouchers vip e e-vouchers express. Os primeiros são usados apenas como cupons-descontos junto à rede parceira. Os outros podem, também, ser enviados para a divisão de lucros da empresa, advindo daí uma das formas de remuneração pecuniária do afiliado.


Fonte: G1 RN

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