Informações coletadas pelo governo vão contribuir para a
promoção de políticas públicas no contexto da campanha
Com a proposta de entender os processos que envolvem o uso
das redes sociais e jogos eletrônicos nos casos de suicídio e automutilação, o
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) ouviu
especialistas no tema. As informações, divulgadas nesta segunda-feira (22),
visam contribuir para a promoção de políticas públicas no contexto da campanha
“Acolha a Vida”. “Precisamos entender
essa explosão de casos de suicídio e automutilação. Nossas crianças, nossos
jovens, estão em profunda dor. Por isso a importância de tirar este estigma de
que quem está se cortando, impondo sofrimentos ao próprio corpo, está querendo
apenas aparecer”, afirma a ministra Damares Alves.
No que diz respeito às novas tecnologias, a titular do MMFDH
é enfática. “Redes sociais e jogos eletrônicos, quando não usados de forma
adequada e consciente, podem tomar o lugar do diálogo, da família, do abraço,
do olho no olho”, alerta.
Psicologia
Com atuação em um centro clínico de Brasília/DF, a psicóloga
Priscila Moraes Henrique explica que as redes sociais e os jogos eletrônicos
podem influenciar comportamentos que levem à automutilação e até ao suicídio.
Mas, segundo ela, é preciso, antes de tudo, verificar o contexto em que o
indivíduo está inserido e quais as questões emocionais e psicológicas que a
pessoa tem vivido.
“A partir disso é possível compreender a relação dos itens
com os comportamentos dessa pessoa. Por exemplo, o mundo virtual, na maioria
das vezes, apresenta uma realidade distorcida ou, pelo menos, muito diferente
da vida real da grande maioria das pessoas, e isso pode gerar cada vez mais
pessoas angustiadas por não conseguirem viver a vida que lhes é apresentada do
outro lado da tela”, afirma.
A especialista acrescenta que a internet, no geral, traz
certa ambiguidade, uma vez que apresenta sites ou redes sociais que combatem o
suicídio e outras que incentivam a prática. “Diante disso, é importante um
olhar atento de profissionais, pais, cuidadores, da sociedade em um todo, para
combater de forma efetiva os meios que propagam a prática desses
comportamentos”, completa.
Jogos
A psicóloga destaca que os jogos eletrônicos, muito mais que
as redes sociais, apresentam uma realidade deturpada e superficial, porém com
possibilidade de "interação" maior, uma vez que o jogador precisa
demonstrar certas habilidades para ganhar o jogo, entre outros quesitos.
“Dependendo da idade da pessoa – geralmente são crianças e
adolescentes, ou seja, pessoas que ainda estão em processo de formação da
personalidade, do intelecto, de compreensão da própria vida – esses jogos podem
incentivar comportamentos inadequados, inapropriados e até perigosos”, observa.
Priscila Henrique aponta que os jogos podem ainda fomentar a
ideia de que o indivíduo tem que ganhar sempre e quando ele perde, ele tem a
chance de tentar de novo, de onde parou, do mesmo jeito, pelo mesmo caminho,
sem um esforço real, uma vez que é um jogo.
“Porém, os contextos da vida são diferentes, o que pode
gerar sentimentos de incapacidade diante das frustrações, pois nem sempre é
possível ‘ganhar’ e é necessário ao ser humano aprender a lidar com as perdas
para o bom desenvolvimento. Lembrando sempre que o contexto em que o indivíduo
vive é também significativo para essas ações”, ressalta.
Propostas
Entre as soluções para reverter os quadros de desilusões
estimulados pelas novas tecnologias, a psicóloga Priscila Henrique aconselha os
pais e responsáveis.
“Partindo do pressuposto que os pais ou responsáveis não
sejam, também eles, dependentes desse mundo virtual, o ponto de partida pode
ser um diálogo aberto com os filhos, mostrando de forma cautelosa e inteligente
como funcionam as redes sociais, a internet em um todo e os jogos eletrônicos.
Quais os riscos, quais os benefícios possíveis e quais os malefícios que a
relação exagerada com esses itens pode trazer”.
Segundo ela, outra ação é participar ativamente da vida dos
filhos, saber o que eles estão assistindo, quais jogos estão utilizando, com
quem estão conversando.
“Ser sempre presente, afetuoso, ter tempo de qualidade com
os filhos. Somente assim é possível conhecer de fato a criança e o adolescente.
Desta forma, caso eles apresentem algum comportamento considerado estranho, os
pais ou responsáveis terão mais chances de identificar e intervir, caso
necessário”, conclui.
Escolas
Atualmente atuando em Florianópolis/SC, o psicopedagogo
Pedro Lucas Lopes de Lima afirma que os jogos, sozinhos, não influenciam nos
casos de suicídio. Segundo o profissional com experiências em instituições
diversas, principalmente de Ensino Médio, os sentimentos de autodestruição podem
ser ocasionados por um conjunto de fatores.
“O que influencia, o que aumenta a propensão ao suicídio,
são os vínculos familiares desorganizados ou construídos a partir de opressão,
a partir da relação onde o adolescente não tem espaço de fala, não tem
escolha”, exemplifica.
Sobre prevenir tentativas de suicídio e automutilação, o
profissional da área da Psicopedagogia reafirma a importância das relações
pautadas no diálogo, respeito e liberdade. “Primeiro ponto que os pais podem
fazer para reverter o quadro é começar a conversar com os filhos e dar espaço
para eles, começar a perguntar para os filhos o que eles gostam, o que eles
querem. Começar a valorizar as suas escolhas, os seus entendimentos de mundo,
os seus gostos, os seus hobbies”, aconselha.
De acordo com o psicopedagogo, desta forma os pais conseguem
construir um espaço de confiança, um espaço de troca, onde o adolescente vai
compartilhar cada vez mais as experiências, sejam elas negativas ou positivas.
Campanha
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
lançou a campanha “Acolha a Vida” no último dia 12. A iniciativa visa prevenir
suicídios e automutilação em todas as faixas etárias, especialmente crianças,
adolescentes e jovens.
A ação conta com a consultoria do psicólogo especialista em
Prevenção do Suicídio e doutorando da Universidade de Brasília (UnB), Carlos
Aragão, e do psiquiatra da Infância e da Adolescência do Hospital Universitário
de Brasília (HUB), André Salles.
Fonte: Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos/ www.brasil.gov.br
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