Trazido ao país pela Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), o projeto de pesquisa Eliminar a Dengue: Desafio Brasil é uma iniciativa
científica internacional pioneira que estuda o uso da bactéria Wolbachia como
uma alternativa natural, segura e autossustentável para o controle da dengue.
Quando presente no Aedes aegypti, a Wolbachia reduz a capacidade do mosquito em
transmitir o vírus.
Como resultado dos estudos realizados pelo projeto entre
agosto de 2015 e janeiro de 2016 em dois bairros parceiros, foi verificado que
80% dos mosquitos Aedes aegypti destas localidades possuem a bactéria
Wolbachia. O grupo de cientistas do programa internacional Eliminar a Dengue:
Nosso Desafio comprovou em laboratório que, quando inserida no mosquito, a
bactéria é capaz de reduzir a transmissão dos vírus dengue e chikungunya.
Recentemente, também foi demonstrado que a Wolbachia pode reduzir a transmissão
do vírus zika. A iniciativa não tem fins lucrativos.
“Este é um projeto científico que realiza estudos no
ambiente de campo para avaliar como o método poderá contribuir enquanto uma
alternativa complementar para controle da dengue. Estamos satisfeitos em
apresentar estes dados promissores e aproveitamos a oportunidade para agradecer
o apoio dos moradores dos dois bairros, que são parceiros fundamentais do
estudo”, afirma o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira, coordenador do
projeto no Brasil. A iniciativa faz parte do programa internacional Eliminar a
Dengue: Nosso Desafio, que também realiza estudos na Austrália, Vietnã,
Indonésia e Colômbia. No Brasil, os bairros de Tubiacanga, na Ilha do
Governador, na cidade do Rio de Janeiro, e de Jurujuba, em Niterói, que
participam do projeto.
O coordenador do projeto destaca que o percentual atingido
neste momento se refere à fase de liberação dos mosquitos. “Este número reflete
o cenário dos bairros parceiros neste momento em que a equipe realizou liberações
sistemáticas. Ao longo das próximas semanas, continuaremos acompanhando a
população de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia nestes locais. Variações
nesta porcentagem são esperadas e têm sido observadas nos diversos países em
que o projeto realiza estudos em campo”, pondera.
Como o método funciona - Mais da metade dos insetos do mundo
possuem a bactéria Wolbachia. Depois de milhares de tentativas, a equipe do
programa Eliminar a Dengue, na Austrália, conseguiu introduzir a Wolbachia
dentro do ovo do Aedes aegypti, através de microinjeções e sem o uso de
qualquer tipo de modificação genética. A Wolbachia é passada naturalmente da
mãe para os filhotes. “Este é um diferencial do projeto, pois garante a sua
autossustentabilidade sem a necessidade de liberações frequentes de Aedes
aegypti com Wolbachia”, afirma Luciano.
Na atual etapa do projeto, os pesquisadores avaliam a
liberação de mosquitos adultos e a liberação de ovos – neste caso, é usado o
Dispositivo de Liberação de Ovos (DLO), um recipiente plástico com tampa e
pequenos furos nas laterais. Os DLOs são hospedados na residência de moradores
que colaboram com a iniciativa – os chamados 'anfitriões' do projeto. No
interior do recipiente, há ovos de Aedes aegypti com Wolbachia, água e alimento
para as larvas que vão nascer. Cerca de sete a dez dias depois da instalação do
DLO, os ovos darão origem aos mosquitos adultos, que voarão gradativamente para
fora do recipiente por meio dos furos.
“Estamos em busca de metodologias de liberação dos mosquitos
Aedes aegypti com Wolbachia que sejam ao mesmo tempo mais eficazes e mais
baratas. Devido à facilidade logística e ao menor custo, o DLO permite que
áreas maiores sejam trabalhadas, possibilitando, no futuro, a ampliação da área
de atuação do projeto", explica Luciano, acrescentando que, antes da etapa
de liberação dos mosquitos, houve amplo trabalho da equipe de engajamento
comunitário informando e dialogando com os moradores dos bairros parceiros.
“Seguiremos acompanhando os resultados em Tubiacanga e em Jurujuba. Neste
momento, também estamos avaliando os próximos passos para uma possível
ampliação do projeto”, diz o pesquisador.
Segurança e aprovações - A Wolbachia é uma bactéria restrita
a animais invertebrados. Por ser obrigatoriamente intracelular, ela não sai
durante a picada do mosquito e não está presente na saliva que o mosquito
secreta durante a picada. Além disso, há séculos os seres humanos são picados
pelo pernilongo, que naturalmente possui a Wolbachia, sem o desenvolvimento de
doenças ou reação imune causadas diretamente pela bactéria.
Os estudos e campo do projeto no Brasil foram aprovados pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), pelo Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Comissão Nacional de Ética
em Pesquisa (CONEP) após rigorosa avaliação sobre a segurança para a saúde e
para o meio ambiente.
Financiamento - O projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil
integra o esforço internacional sem fins lucrativos do programa Eliminate
Dengue: Our Challenge (Eliminar a Dengue: Nosso Desafio). No Brasil, o projeto
tem financiamento do Ministério da Saúde (Secretaria de Vigilância em Saúde –
SVS e Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia
e Insumos Estratégicos – DECIT/SCTIE), Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação e CNPq. O projeto conta, ainda, com recursos diretos da Fundação Bill
& Melinda Gates, e com contrapartida da Fiocruz em estrutura, recursos
humanos e equipamentos. A Secretaria Municipal de Saúde de Niterói e a
Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro atuam como parceiros locais na
implantação do projeto.
O financiamento internacional principal é oriundo de verba
da Universidade de Monash, obtida por meio da Foundation for the National
Institutes of Health (FNIH, dos Estados Unidos) através do programa Controle de
Doenças Transmitidas por Vetores: Pesquisa para Descoberta (Vector-Based
Transmission of Control: Discovery Research - VCTR) da Iniciativa Grandes
Desafios em Saúde Global (Grand Challenges in Global Health Initiatives) da
Fundação Bill & Melinda Gates.
Fonte: IOC/Fiocruz - www.blog.saude.gov.br
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