09/07/2019

FEIRA LITERÁRIA MOVIMENTA SERTÃO DO PAJEÚ


Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) organiza evento em São José do Egito, capital nordestina da poesia popular, de 18 a 20 de julho

São José do Egito ganha feira literária dedicada a poetas, glosadores, repentistas. A 1ª Feira da Poesia Popular do Pajeú é promovida pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e será realizada no período de 18 a 20 de julho, na Rua João Pessoa, Centro da Cidade.

O objetivo do evento é difundir a produção da cultura popular do Sertão do Pajeú. “Queremos contribuir para fortalecer essa expressão cultural pernambucana e estimular a produção dos poetas”, disse o presidente da Cepe, Ricardo Leitão. Oficinas de xilogravura e estêncil, mesas de glosa, contação de histórias, atrações musicais, mesas de bate-papo, exposição e lançamento de livro fazem parte da programação da feira que conta com o apoio da prefeitura de São José do Egito e de outros municípios da região. “Essa feira é também uma grande oportunidade de mostrar a cultura da poesia popular”, acrescenta o secretário de Cultura de São José do Egito, Henrique Marinho. O investimento total da feira é de R$ 150 mil. 

Situada a 400 quilômetros do Recife, São José do Egito é conhecida como capital nordestina da poesia e tem em seus habitantes potenciais poetas do improviso, sejam eles anônimos ou famosos como Lourival Batista Patriota (1915-1992), Manoel Filó (1959-2015) e Dedé Monteiro. Esses dois últimos serão homenageados da feira. Dedé, inclusive, carrega o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco, concedido em 2016. Cada um deles ganhará uma mesa com a presença de parentes e poetas falando da trajetória de ambos.

Ao final de cada uma das três noites do evento, seis poetas vindos de quase todos os municípios que compõem o Sertão do Pajeú (Itapetim, Brejinho, Tuparetama, Tabira, Afogados da Ingazeira, Solidão, Ingazeira, Iguaracy, Serra Talhada e Triunfo, além de São José do Egito) participarão de mesas de glosa (composição poética em dez versos construída de improviso a partir de um mote). O conteúdo das mesas será transcrito e transformado em livro a ser publicado pela Cepe, com lançamento previsto para janeiro de 2020, durante a Festa de Louro, para celebrar os 105 anos do poeta Lourival Batista.

As mulheres poetas do Pajeú: Isabelly Moreira (São José do Egito), Mariane Alves e Jéssica Caetano (Triunfo), Sara Cristóvão (Tabira) terão seu lugar de fala garantido em mesa com a revista Continente, da Cepe Editora.Os aboiadores Paulo Barba e Jairinho Aboiador farão apresentação tocando as toadas típicas do Sertão para tanger o gado.

Para incentivar o registro da produção da poesia popular, a Cepe fará uma roda de diálogo com um representante do conselho editorial esclarecendo os caminhos para a publicação na editora. Em São José do Egito, por exemplo, só há um xilogravurista. As publicações em livro e cordel são realizadas por artistas de fora da região, ou ilustradas por fotografias e outras técnicas.

A feira abre com a exposição Pelos Sertões, do artista paraibano radicado no Piauí Marcos Pê, conhecido pelos quadros figurativos de poetas. Ao lado dos desenhos impressos em madeira o artista coloca poesias dos glosadores e cantadores.

Haverá roda de diálogos para debater a poesia na educação. Em São José do Egito, é Lei Municipal ensinar poesia popular nas escolas. Na programação, os diálogos com os poetas Antônio José de Lima e Antônio Marinho mostrarão que a poesia está diretamente ligada à história da cidade.

Reza a lenda que basta beber a água do Rio Pajeú para virar poeta, visto que há séculos foi enterrada uma viola dentro do rio. Mas a história conta que o baião de viola chegou ao Pajeú na época da colonização portuguesa e traz influência dos mouros e muçulmanos. Conta-se que as chamadas Rodas de Glosas tiveram como palco as mesas de bares e botecos ocupadas pelos boêmios, sem nenhuma organização prévia.

Durante a feira será lançado ainda o livro de poesias vencedoras do Concurso de Poesia Popular de São José do Egito - Poesias Premiadas - Volume 1, que selecionou poesias nas categorias Quadras, Sextilhas, Sete linhas, Décimas e Décimas com mote. O dinheiro arrecadado com a venda da publicação financiará o custeio da próxima edição do concurso.

As crianças também têm espaço reservado na programação, com apresentação do Recital Infância Rimada. Trata-se de um grupo de crianças de Tabira que recebe semanalmente oficina de poesia coordenada pelo poeta Zé Carlos do Pajeú.Já a contação de histórias do livro Uma Festa na Floresta (Cepe Editora), de Lêda Sellaro, ficará a cargo da cordelista Suzana Moraes; e Dianimal (Cepe Editora) será contada e cantada pelo próprio autor, Alexandre Revoredo.

PERFIL DOS HOMENAGEADOS

Dedé Monteiro

José Rufino da Costa Neto nasceu no dia 13 de setembro de 1949, no sítio Barro Branco, no município de Tabira. Sua relação com a poesia popular remete à infância, profundamente influenciada pelo pai, Antônio Rufino da Costa, que gostava de cantar cordéis enquanto trabalhava no roçado e, anos depois, em sua banca de frutas na feira de Tabira. Escreveu o primeiro poema aos 15 anos de idade, uma homenagem à mãe, Olivia Pires da Costa Monteiro, e não parou mais sua produção literária. Publicou quatro livros ao longo da vida: Retratos do Pajeú (1984), Mais um baú de retalhos (1995), Fim de feira (2006) eMeu quarto baú de rimas (2010).

Considerado o Papa da Poesia, é um dos mais importantes divulgadores da poesia popular e, nas últimas décadas, tem participado de eventos e projetos literários com o objetivo de difundir a linguagem da poesia popular de cordel como elemento na formação cultural do povo nordestino. Professor aposentado, Dedé Monteiro integra a Associação de Poetas e Prosadores de Tabira (APPTA).

“Explicar a poesia/ Ninguém consegue explicar./ Faz a tristeza morrer/ E o sonho ressuscitar.”

Manoel Filó

Manoel Filomeno de Menezes, mais conhecido como Manoel Filó, nasceu em 13 de outubro de 1930,na Fazenda Tabuado, município de Afogados da Ingazeira – PE. Com dois anos de idade mudou-se para Mundo Novo, município de São José do Egito, no qual viveu até os 18 anos de idade. Faleceu aos 74 anos, em 21 de agosto de 2005 na cidade de São José do Egito. Aos 20 anos mudou-se para São Paulo, onde trabalhou de camelô, cobrador de ônibus, vendedor e desenvolveu-se como comerciante.

É considerado um dos maiores poetas populares, tanto pelo dom do improviso quanto pela criatividade e sensibilidade poética ao retratar as paisagens e acontecimentos do Sertão. Não fez profissão da cantoria, no entanto não se negou a cantar quando solicitado pelos companheiros, e nunca lhe faltava um violeiro à disposição.

PROGRAMAÇÃO DA FEIRA DE POESIA POPULAR DO PAJEÚ

18/07 (quinta-feira)

14h - Oficina de xilogravura sustentável e oficina de estêncil

16h - Abertura da exposiçãoPelos Sertões, do artista Marcos Pê

17h -Diálogo Os caminhos da poesia na região do Pajeú, com Antônio José de Lima e Antônio Marinho

18h - MesaLiteratura e Educação: propostas, concepções e experiências, com Alessandra Ramalho, Aparecida Izídio e Eduarda Simone

19h - Recital infantil da Ingazeira, com Ingrid Laís, Islany Maria e Jayne Marília

19h15 -Recital Infância Rimada

19h45 - Aboio com Paulo Barba e Jairinho Aboiador

20h - Mesa de Glosas com Alexandre Morais (Afogados da Ingazeira), Gislândio Araújo (Brejinho), Lima Jr. (Tuparetama), Lucas Rafael (São José do Egito), Milene Augusto (Solidão), Zé Carlos do Pajeú (Tabira)

21h30 - Forró Rimado

19/07 (sexta-feira)

8h - Oficina de xilogravura e oficina de estêncil

16h -Contação de histórias sobre o livro Dianimal (Cepe Editora) com Alexandre Revoredo

17h - Roda de diálogos com o conselho editorial da Cepe

18h - Mesa da Revista Continente (Cepe) sobre Mulheres poetas do Pajeú

19h -Apresentação da dupla de violeiros Adelmo Aguiar e Denilson Nunes

20h -Mesa de Glosas com Anderson Brito (Tabira), Francisca Araújo (Iguaracy), Genildo Santana (Tabira), Lenelson Piocó (Itapetim), Wellington Rocha (Afogados da Ingazeira)

20/07 (sábado)

8h - Oficina de estêncil

16h - Contação de histórias do livro Uma festa na floresta (Cepe Editora), com Suzana Moraes

17h -Palestra Xucuru: a raiz-forte da poesia do Vale do Pajeú, com Lindoaldo Campos

18h - Mesa Manoel Filó: o poeta de todos os lugares, com Ciro Filó, Ricardo Moura e Jorge Filó

19h -Lançamento do livro Concurso de Poesia Popular de São José do Egito - Poesias Premiadas - Volume 1

20h - Mesa de Glosas com Aldo Neves (Tuparetama), Elenilda Amaral (Afogados da Ingazeira), Erivoneide Amaral (Afogados da Ingazeira), Henrique Brandão (Serra Talhada), Zé Adalberto (Itapetim), Zezé Neto (São José do Egito)

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