Fonte: Blogdo Magno Martins.
Foi uma opção da senhora ficar em silêncio esse tempo
todo, evitando entrevistas?
Não, é uma questão de trabalho. Lá no Tribunal não podemos
falar sobre algumas matérias, como, por exemplo, a política. E eu que tinha um
cargo político, meu assunto maior era esse.
Como tem sido sua experiência no Tribunal de Contas?
Eu sou a segunda mulher a exercer o cargo de ministra do
Tribunal de Contas no Brasil, como também fui a segunda deputada federal por
Pernambuco.
Sair da política para cair Tribunal de Contas foi uma
experiência muito impactante?
Foi uma diferença de atividade. Quando a gente está na
Câmara dos Deputados é algo político, você cria leis, fiscaliza. Já o TCU
(Tribunal de Contas da União) é um órgão auxiliar da Câmara, então a gente já
tem uma certa ligação. Para mim, foi um desafio, pois eu já tinha sido
deputada, mas o TCU foi um trabalho importante para a economia do Brasil, já
que fiscalizamos obras e dinheiro do Governo Federal. Por exemplo, nós
aprovamos com ressalvas as contas da ex-presidente Dilma Roussef. No próximo
ano eu serei a presidente do Tribunal, um desafio muito grande para mim e para
as mulheres. Nós precisamos que as mulheres participem das atividades
importantes da nossa pátria, combater aquilo que não está sendo prestado com
dignidade e lisura.
A senhora acha que o espaço da mulher na política ainda é
muito pequeno? E o Congresso é machista?
O espaço ainda é muito
pequeno. Basta ver na Câmara, Assembleia... nesses lugares são poucas
vagas que são ocupadas por mulheres. Eu quebrei um tabu sendo a deputada mais
votada do País. E em relação ao machismo, tem uns que são, outros que não.
E chegar como filha de Arraes no Congresso fez diferença?
Fez sim. As pessoas tinham muito respeito pelo meu pai e
sabiam que ele tinha contribuído muito para que a pobreza tivesse vez e voz.
Papai era uma pessoa muito sensata, firme, sabia o que queria. Ele conseguiu
uma grande vitória para os trabalhadores da cana, que não recebiam nem
dinheiro, era um papel para tirar a comida no barracão do engenho. Não tinham
cama, nada. Papai fez uma reunião juntando todos e foi instituído o primeiro
salário mínimo no Campo no Brasil.
Que balanço a senhora faz do seu mandato na Câmara?
Fiz muito pelo social. Por exemplo, na educação eu não sabia
que só os meninos que estavam no primário não tinham merenda. Os meninos vieram
falar comigo em uma das visitas tinham alimentação. Saindo de lá, passei no
Palácio para falar com Eduardo (Campos) que era o Governador da época e relatei
a situação. Ele disse: "Minha mãe, eu já sei. Já fiz os cálculos e dá R$ 5
milhões". Eu falei: "Pois gaste" (risos). Depois, fui a Brasília
para criar um projeto de lei para que a merenda fosse dada a todos esses
meninos. Ressuscitei um projeto do ex-presidente Lula que estava arquivado e
hoje todos os meninos de escola pública têm merenda. Eu também trabalhei muito
na Comissão de Defesa do Consumidor, Constituição e Justiça e sempre com o
olhar para quem mais precisa.
Recentemente, o seu neto João Campos participou de um
debate na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e não foi muito feliz em
declarações contra o seu filho Antônio. Como a senhora viu esse episódio?
Com muita indignação. Eu acho que ele ultrapassou os limites
da sua tarefa de deputado, do local de onde ele dizia e sobretudo do teor.
Antônio Campos, meu filho, é uma pessoa de bem, trabalhadora, direita e eu já
adverti, através de uma nota, que não admitiria esse tipo de desrespeito na
minha família. Eu sou acostumada a respeitar os meus parentes, mesmo se a gente
não concorda com alguma coisa. Foi muito desagradável, uma falta da educação e
prepotência. Inclusive, falou errado a língua portuguesa. Dirigiu-se ao
ministro como "você". Um parlamentar tem obrigação de saber que tem
que tratar com os pronomes próprios daquela categoria. O conteúdo que ele disse
não é verdade e meu pai sempre exigiu que sempre nós tivéssemos respeito pelas
pessoas. João me entristeceu muito, fiquei revoltada e não tive nenhuma palavra
dele até agora. A mãe dele (Renata Campos) deveria dizer para ele me respeitar.
Há um distanciamento da família com ela (Renata)?
Com isso, sim. Eu passo muito tempo em Brasília, mas sempre
fui lá. Muito mais lá, do que ela cá. Agora, resolvi não ir. Quem quiser que
venha aqui.
E João antes era o seu xodó, não?
Não, meu xodó é Zé (risos). E Pedro, também. Pedro é muito
inteligente.
O que João Campos herdou do pai, politicamente?
Não quero falar sobre isso.
O legado que Arraes e Eduardo deixaram em Pernambuco está
sendo posto à frente?
Eu ando distante desse foco. Mas eu acredito que cada pessoa
é uma pessoa. Os legados são deixados e algumas pessoas aproveitam e outras resolvem
fazer seus próprios legados. O legado de Eduardo foi grande. A escola de
Pernambuco era a pior, virou a melhor. Eduardo também era uma pessoa de um
trato muito ameno com todos. Respeitava os opositores e seguidores. Era um
democrata.
Eduardo se preocupou em deixar Geraldo Júlio e Paulo
Câmara para seguir o seu legado. Qual a senhora acha que está indo melhor?
Eu não tenho muita ideia, pois não vivo aqui. Não tenho
condições para julgar. Nem ouço muito falar.
A senhora é filha de Arraes e mãe de Eduardo e nunca
interferiu no Governo. A viúva (Renata Campos) interfere?
Não sei, só perguntando a ela. Eu não interfiro, pois estou
em outra área distante da atividade política. Eu tenho muita solicitação de
pessoas pedindo ajuda, em hospital e resolvo tudinho (risos).
Arraes morreu frustrado por não ter sido presidente da
República?
Não, meu pai não era homem de frustração, era um sertanejo.
Aguentava as coisas.
A senhora lembra do dia que ele foi afastado do Governo?
Lembro. A gente morava no Palácio, e quando foi de
madrugada, meu pai veio no meu quarto. Ele disse: "Minha filha, queria
você que arrumasse as coisas dos seus irmãos, por que vocês vão para a casa da
sua avó". Aí eu fui correndo e pela primeira vez nós saímos num carro que tinha
gente armada dentro. Ele nos levaram e ficamos aguardando. Nas esquinas da casa
ficavam investigadores, várias vezes entraram na nossa casa, procurando algo
ligado ao comunismo... meu pai era um cristão. Nunca usou a religião para a
política, por que sabia que a religião era algo muito mais fino do que a
política.
A senhora estaria mais feliz se tivesse seguido a obra
política de Miguel Arraes e Eduardo Campos e não como ministra julgando contas?
Não sei. Mas eu posso voltar, quando me aposentar, daqui a
dois anos. Tenho 72 anos, quando tiver 74, posso ser candidata a tudo (risos).
Mas o Senado não, é como meu pai dizia: "É coisa de velho" (risos).
Vamos ver.
Como a senhora avalia o trabalho da sobrinha Marília
Arraes na política?
Eu tenho pouca informação sobre as atividades de Marília e
de João (Campos), também.
Se houver um embate entre os dois, a senhora vai tomar
partido?
Não sei, vamos ver. Tem que saber como vão se desenrolar as
coisas e esperar.
Como a senhora soube da morte do seu filho Eduardo
Campos?
Eu estava na sessão de posse de Ministro. O presidente à
época era Augusto Nardes e ele me chamou no gabinete dele. Lá, soube da notícia
e pela primeira vez na vida tive pressão alta, quase morro. Tomei injeção na
veia nos dois braços. Aí viemos para Recife e começou a pesadelo do único
pedido que fiz a Deus, que era morrer antes dos meus filhos. Ele era um filho
muito bom, estudioso, amigo, ameno... as qualidades que ele tinha foram
exaltadas pelos cargos que ele exerceu com honra e amor. Pensou nos que
precisam mais e melhorar o Estado de Pernambuco. Depois daquela entrevista no
Jornal Nacional, falei com ele, ele estava feliz e eu só disse pra ele honrar o
nome dele e o de Pernambuco.
A senhora acha que ele seria o presidente se não fosse o
acidente?
Acho. Ele tinha tudo para ser presidente. Tinha preparo,
inteligência, sabia cuidar das pessoas, com uma coisa de igualdade e
fraternidade, que ele tinha desde menino.
Acredita em sabotagem no avião dele?
Eu não sei, tem perícias sendo feitas. Eu duvido de tudo. O
avião era novo, né? Se fosse um avião velho...
O que mudou na sua vida depois da morte de Eduardo?
A ausência dele é muito grande. Às vezes em casa eu choro.
Foi mais impactante do que a morte do meu pai. Meu pai estava velho, mesmo
lúcido. Mas a pessoa na flor da idade, morrer, podendo ser tão útil para o
Brasil? Foi muito precoce.
Foi o prestígio de Eduardo que fez a senhora virá
ministra?
Eu acho que influenciou, sim. Tinham muitos deputados que
eram colegas dele e meu. Foi toda uma conjuntura. Eles sabiam que os Arraes são
gente direita.
Antônio Campos tem vocação para política?
Eu acho que ele tem. É inteligente, capaz. Mas eu deixo as
coisas aflorarem, embora dou conselhos.
Qual a mensagem que a senhora deixa para os
pernambucanos?
Eu desejo que esse seja um
ano de muita luz, muito trabalho e oportunidade para as pessoas se empregarem.
Quero que haja muita alegria, bom para todo mundo, que as perdas materiais
sejam pequenas e que Deus nos proteja e nos guarde para que a gente rompa um
novo ano.
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