Nova etapa de execução é concretizada via convênio entre MDS e Consórcio Nordeste, no valor de R$ 311 milhões. Na área rural de Juazeiro (BA), os moradores estão otimistas com as novas possibilidades trazidas pelo acesso à água
"Essa cisterna vai me ajudar na atividade produtiva, vou saber que estou consumindo alimento saudável. E o Fomento vai me dar uma garantia de ter uma criação melhor, que eu preciso também, de caprinos e ovinos.” Jamile da Silva, produtora rural.
A produtora mora na comunidade
Pau Preto, zona rural de Juazeiro, ao norte da Bahia. “O Programa Cisternas é
perfeito”, definiu Jamile, sorridente. São mais de 42 mil cisternas
contratadas, a partir de convênio entre o Ministério do Desenvolvimento e
Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e o Consórcio Nordeste. A
parceria, formalizada em maio deste ano, contempla os nove estados nordestinos.
O investimento é de quase R$ 300
milhões do Governo Federal, por meio do MDS, e de outros R$ 12 milhões de
contrapartida dos estados. O convênio prevê a instalação de 39 mil tecnologias
de acesso à água para consumo humano e 2,89 mil sistemas para consumo animal e
produção de alimentos. As famílias que recebem as cisternas para a produção de
alimentos também são inseridas no Programa Fomento Rural, em um repasse de R$
13,3 milhões pelo acordo.
Além de oferecer assistência
técnica, o Fomento Rural transfere o valor de R$ 4,6 mil diretamente para os
beneficiados. São grandes conquistas para Jamile da Silva, que pensa em
alternativas de expansão produtiva, a partir do recurso, da cisterna concluída
e da capacitação para trabalhar em novas culturas. Ela também quer melhorar as
condições do local onde cria caprinos e ovinos, a começar pela construção de um
teto para os animais.
“Essa cisterna vai me ajudar na atividade
produtiva, vou saber que estou consumindo alimento saudável. E o Fomento vai me
dar uma garantia de ter uma criação melhor, que eu preciso também, de caprinos
e ovinos”, projetou Jamile, enquanto acompanha em detalhes o processo de
construção da estrutura. Nascida e criada na zona rural, é nessa mesma terra em
Juazeiro que ela quer continuar a escrever sua história.
A realidade que o Programa
Cisternas desenha para as famílias é possível graças à retomada, em 2023, dos
investimentos na ação. Trata-se de uma política pública que assegura o direito
de acesso a água.
Perspectiva
À sombra de uma árvore no quintal
de casa, na comunidade Arapuá Novo, a produtora rural Maria Sonia Oliveira
espera com tranquilidade o período de chuvas na região, quando será possível
captar a água, armazenar e, finalmente, utilizá-la. Os 60 anos de vida,
completados no último mês, são morando sobre o mesmo chão de terra em Juazeiro.
Maria Sonia recorda da época em que a família não tinha cisterna em casa.
A poucos quilômetros da
propriedade em que Maria Sonia cria caprinos, a família de André Nascimento
também tem na pequena agricultura o meio de subsistência. É da atividade no
campo que o produtor colhe qualidade de vida para os três filhos. Ao lado da
esposa, Márcia Cristina, ele enxerga no Programa Cisternas a chance de ampliar
e otimizar a produção na área em que vivem.
Aos 43 anos, essa será a primeira
vez que o agricultor vai manejar uma horta. “Vou plantar coentro, alface,
tomatinho... Vai ser pra gente comer em casa, um alimento saudável, e se for
possível, até ter uma rendinha extra pra família”, planeja André, com
entusiasmo.
Capacitação
O assessoramento técnico para as
famílias que atuarão com as cisternas de produção de alimentos, tem o papel de
educar e dar suporte, para que a atividade seja executada com segurança. Dessa
forma, Jamile, Maria e André são acompanhados por profissionais com experiência
e que conhecem o potencial produtivo da região.
Nas comunidades rurais de
Juazeiro, a assistência é feita pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária
Apropriada (IRPAA). “É um trabalho que fortalece a função da assessoria
técnica, porque a gente conversa com eles, tira dúvidas e até ajuda a escolher
qual atividade produtiva eles querem desenvolver”, explicou Andressa Menezes,
técnica do IRPAA.
“A retomada do Programa Cisternas
consolida o que nós defendemos, que é a convivência com o Semiárido. É um
processo que integra a família, porque todos participam”, completou.
O desenho do programa beneficia
todos os envolvidos, de uma ponta a outra, como é o caso do pedreiro Flávio
Rodrigues, que nunca havia trabalhado na construção civil. Ele passou por uma
capacitação, esse ano, e agarrou a oportunidade. Desde que assumiu a função,
perdeu as contas de quantas cisternas já ajudou a construir.
“Quero aprender mais ainda, desde
moleque tinha vontade de ser pedreiro, e quero aproveitar a oportunidade de
trabalhar na área. A cisterna é um presente, eu só tenho a agradecer ao programa,
à ASA, a todos”, declarou Flávio. Entre o início e a entrega, a construção de
cada cisterna pode variar entre sete e 15 dias, em média.
A Articulação Semiárido
Brasileiro (ASA) é uma rede que defende, propaga e desenvolve o projeto de
convivência com o bioma. A entidade é composta por mais de três mil
organizações da sociedade civil, como sindicatos rurais, associações de
agricultores e agricultoras, cooperativas, organizações não governamentais e
institutos, como o IRPAA.
Avanço
Ao resgatar o Programa Cisternas,
em 2023, após longo período sem incentivos, o Governo Federal investiu R$ 600
milhões e contratou 62,7 mil unidades, sendo 58,2 mil para o Semiárido e as
demais para a região Amazônica.
As tecnologias sociais de acesso
à água são um importante equipamento para a convivência com as regiões,
promovendo dignidade, saúde, segurança alimentar e melhores condições de vida.
Além disso, pesquisas científicas mostram a importância desses sistemas na
saúde de gestantes e recém-nascidos.
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